segunda-feira, setembro 11, 2006

Pra não dizer que não falei de Drummond!

Acho o Brasil infecto. Não tem atmosfera mental; não tem literatura; não tem arte; tem apenas uns políticos muito vagabundos. (Carlos Drummond de Andrade)

Pois é, com esse conceito que o cartão de visita de nosso país é exibido lá fora e os visitantes ilustres do primeiro mundo vem somente para gastar uns parcos trocados.
Uma das frases que mais martelou em minha cabeça durante sete dias...
“- Tudo aqui é muito baratinho!” com aquele olhar de desdém para uma pequena loja de esculturas em pedras semipreciosas. Não sou nenhuma nacionalista inflamada, mas ver alguém desdenhando de tudo, como se fossemos um excremento tão barato que nem dá gosto de pisar para não estragar o solado do sapato de couro que é fabricado aqui e exportado para sua terra natal, a terra dos soberbos.

Isso serve de lição, amigos por correspondência, trocas de “scraps”, ligações bailam sempre pela linha da cordialidade. Mas a impressão do pessoalmente “-Nice to meet you!” passa de longe do que construímos. Toda um a cerimônia e um verniz de civilizado cai por terra e a visão das unhas por cortar e sujas pegando a comida sem nenhum talher, é de tirar o apetite.

Pois é, tanta troca sobre cultura, sites enviados falando sobre Portinari, Di Cavalcanti e outros... nunca foram visitados e com um olhar de espanto ao descobrir que por trás da atitude soberba de não se importar com que os outros países produzem de cultura ao saber que já tínhamos saído do combustível da cana-de-açúcar e produzíamos petróleo, é incrível. Fiquei estatelada diante do comentário, isso porque já havia falado que trabalhava em uma empresa de offshore aqui no Brasil. Me respondam: O que uma cia de Offshore faria no Brasil sem petróleo? Essa foi a primeira de muitas outras pérolas, como não sabia que vocês tinhas vinhos nacionais e exportavam!

Ao longo da semana, tive o requinte de circular pelos dutos culturais, a exposição do Di Cavalcanti foi uma delas, eis novamente aquele olhar de tamanha surpresa em descobrir que temos artistas e com versatilidade de técnicas. O próprio guia da exposição era artista plástico. Céus, o Brasil tem arte e tem gente civilizada, não é só carnaval , bunda, peitos e sexo barato pela orla da Zona Sul do Rio. O deslumbre por todas as obras arquitetônicas, incluindo Niemayer, a catedral bem no coração do Centro, Petrópolis e suas facetas históricas, museu do Catete, Rua do Lavradio, Santa Teresa, Mac em Niterói, CCBB, visita ao Palácio Tiradentes e toda a sorte de pequenos guetos de arte e cultura que ficam entocados no centro da cidade em meio aos prédios velhos e revigorados da cidade. Um senhor banho de cultura e desmistificação do quanto nosso país não precisa dos parcos trocados arrogantes. Mas nem tudo são flores, a imagem que a mulher brasileira tem, infelizmente é muito forte, são umas putas quentes e bem baratinhas... basta só dar um presentinho ou falar que quero te levar para meu país que elas se derretem e fazem de tudo na cama.
O restante do verniz caiu de fato após experimentar uma rodada de cachaças da coleção do Mangue seco, lá no Lavradio... declarações que tinha sido a melhor viagem da vida e que tinha sido a melhor guia turística.
Eis que veio alguma idéia bem torpe de me convidar para dançar na pista do Rio Scenarium, eu e a minha amiga cerveja Sol, só queríamos que o relógio corresse, estava cansada, tinha andado o dia inteiro e fiz questão de colocar a criatura para descer de santa Teresa a pé até o Palácio do Catete, assim o tempo corria e a voltinha pelo parque sem dar chance de sentar estava bem divertida, quando sentou tratei logo de trocar figurinhas com o restaurador do parque, assim nada de ficar do lado ou de dar chance para algum bote... ultimo dia tudo é possível de acontecer, o verniz estava derretendo e só queria mesmo que o relógio corresse. A noite se encerrava com a má-criação e pirraça por ignorar os passos desajeitados que só na cabeça dele eram sensuais para que eu caísse de amores. Saímos de lá e rezava para ele entrar no primeiro táxi, pois queria me desvencilhar logo e se fosse necessário ia de metrô.
Éhhhhhhhh,esperta mas nem tanto, arrumei de ser acompanhada até o metrô... pra mim, ok, o coitado resolveu investir e se matar de andar da Lavradio até a estação do metro da Carioca. No meio das escadarias, “- Você me acompanha até o hotel?” essa célebre pergunta caiu do nada e do mesmo jeito foi rebatida com a retórica de me acompanhas até em casa, esta tarde e o Rio é perigoso para uma moça andar só por aí. (ninguém tem cavalo branco!)
Eu pensava... não existem mais as gentilezas. Pra quem não topou nem dançar, era melhor ele ter colocado a viola no saco, mas a noite estava acabndo e ele tinha de matar a sede. Tosqueira pura, aquele olhar de soberbo e não entendia o motivo de uma baratinha ter dito não o tempo inteiro, mostrando que não se importava e nem ligava para a origem, dinheiro não tinha a menor atração e o que poderia ter sido um desfecho de cultura, gentileza e educação virou um atropelo tosco. ainda quero saber se existem pessoas desprovidas desta empáfia e somente são munidas da transparência e pureza de alma.
O silêncio foi a prévia de um olhar de puro ódio, o trem estava quase partindo para a Zona Sul, o ser entrou e deu um abano bem seco como quem queria me quebrar o pescoço.
"-What's uppppppppp!" Nunca sapateei tanto por me livrar de uma companhia como nesta noite. Será que ele não entendeu, não viu ou sua arrogância soberba não permitiu perceber que não aceitei nenhum presente, nenhuma jóia e recusei qualquer trocado de táxi ou coisa do gênero por não estar a venda!
Ele não percebeu isso? Não preciso dos parcos trocados e nem quero ser usufruto de ninguém! Não preciso disso, nunca precisei. Bom esse voltou pra casa sem o verniz e sem comer uma puta com direito a molho de cultura e educação.
Sonhos e desejos...
Quanto ao resto, sonho um dia contradizer Drumonnd e que as mulheres brasileiras não se portem de maneira tão vulgar e desesperada para que um gringo as leve daqui a preço de banana.
Quero que a secretaria de turismo mude esse conceito de que nosso país só é bom no Carnaval pra ver bundas de fora, não somos índios e muito menos baratinhos. Ninguém aqui está a venda! Só assim o Brasil seria mais respeitado!
Muda Brasil! Cadê a nossa dignidade? Com certeza ela não está afogada em um copo de cerveja!