Reunião de família

Se passaram mais de dez anos quando o Dr Nareba, resolvera comemorar seus quase 40 anos com a família do Rio... O evento; uma pizzaria em um shopping de difícil acesso para pedestres, ao menos não veríamos aquela vulgar vista de transeuntes feiosos e que exalam a pobreza em suas vestes.

Todos já estavam presentes em uma mesa comprida, quem avistava de longe conclua tratar-se de uma família feliz, mas era somente um grupo que por ventura possuíam maiores similaridades genéticas, nada mais que isso.

A pizzaria lotada sem muito esforço o Nareba foi avistado, também com quase meia lapa de nariz, só não acha quem não quer enxergar.

A noite transcorria de uma maneira agradável, primos e primas fofocando e relembrando épocas insossas de suas infâncias, pois coincidentemente todos vivenciaram a experiência de pais divorciados praticamente na mesma época. Família aos moldes do séc 20, piadas ironias, brincadeiras e o sabor de afinidade pairava no ar... definitivamente longe é um lugar que não existe e afinidade sem convivência não é pré - requisito para surgir.

Conversa vai, conversa vem... eis que o foco das atenções começaram a recair não mais no aniversariante e sim sobre meus ombros... admito que não estava preparada para tal situação, pós ano novo, tudo ainda muito recente... estava saindo da casca aquela primeira semana de janeiro, após um pequeno período de hibernação etílica, o famoso isolamento. Estavam todos ali, olhando para mim, com o olhar soberbo de quando me casaria... Engraçado, aposto que se fosse um homem, não fariam esta pergunta, mas aqueles conceitos antigos de que moça tem de estar noivando ou casando para ser de fato feliz e viver a grande expectativa de vida que todos os seus familiares esperam... e que no mínimo seja um belo partido.

Fiquei estatelada os primeiros minutos, mas como sempre a ironia faz parte do meu show e resolvi encarar os olhares com a verdadeira ironia... eu em pessoa.
Retruquei que a safra não estava boa o suficiente para me fisgar e para gastar minhas energias... Para se programar um suposto casório, teria de sentir orgulho e admiração pela pessoa que estivesse ao meu lado, caso contrário continuaria a minha cruzada acadêmica... pois é, saí de uma maneira pitoresca, pois dissertei sobre todos os planos e conquistas realizadas que o assunto casório.... ficou lá longe... estavam tão surpresos, pois somente o Nareba sabia que estava terminando o curso de direito... minha segunda faculdade.

A grande maioria estavam lá estupefatos e com aquele sabor de eu também quero pegar carona nos meus planos de vida... oops casamento atrapalha bastante, principalmente quando se pretende pular fora do estado, país... mudar mesmo! Se é para sair do casulo que seja para uma boa escolha, não qualquer item de esquina que não nos instigam a sentir o sentimento mais nobre de todos... o eterno respeito, zelo e admiração. Se não admiro alguém dificilmente dou importância as opiniões, desejos e qualquer palavra fora de hora.

Meu discurso foi sincero na noite, matei as saudades de outros... admito até que me diverti tripudiando das limitações de boa parte da mesa, mas família é isso tirar sarro sem ter medo de levar uma bela porrada na cara.

Em um momento oportuna ainda dissertei sobre o quanto já estava percebendo como acadêmica de direito, foi nesta hora que o Dr Nareba resolvera me cobrar algumas opiniões sobre um caso em que estava trabalhando... eis que a expressão que tanto guardara tinha finalmente um uso...
“- Show me the money priminho! De graça não rola... nem em família!”

A noite se encerrou com direito a perspectivas de algumas retomadas de convívio... mas sabe, o grande barato da família é isso, nunca sentimos muita vontade de estarmos perto, mas quando não conseguimos escapar dos eventos, sempre é bom.